Já forma um
time de futebol, mas ainda não dá uma partida. A Petrobras tem hoje apenas 18
mulheres com o crachá como o da presidente da empresa trabalhando em plataformas
do pré-sal, um dos projetos mais promissores da economia
brasileira.
Elas são
apenas 4% dos funcionários dessas unidades de produção _o que corresponde a uma
proporção de 23 homens para cada mulher_ percentual que desafia a presença
feminina em cursos de Engenharia. Dos cinco mil alunos matriculados na Escola
Politécnica da UFRJ, 30% são mulheres. Na engenharia civil, chegam a
40%.
Na empresa
comandada por Graça Foster, ela própria a segunda mulher na empresa a subir em
uma plataforma, as funcionárias ainda vivem em um ambiente dominado por homens,
mas que vem mudando de cara lentamente. As mulheres representam hoje 15,4% do
efetivo da estatal. Em 2003, eram 12,1%. A maior parte das embarcadas no pré-sal
não tem filhos ou é casada há pouco tempo.
Além das 18
do pré-sal, há muitas outras terceirizadas nas plataformas da empresa. A estatal
não passa os números, mas segundo o Sindipetro-NF, as terceirizadas são de longe
a maioria entre as mulheres nas plataformas (de todos os tipos) do Norte
Fluminense: com um placar de 1.707, contra 254 efetivas.
Poucas
mudanças na rotina de trabalho
Sobre o que
mudou no pré-sal? Muitas dizem que a rotina de trabalho pouco se alterou. Citam
a viagem de helicóptero até a plataforma, que agora ficou mais longa (cerca de
uma hora e vinte minutos), e o aumento da cobrança por rapidez nos
resultados.
- O trabalho
é basicamente o mesmo, mas a plataforma ganhou mais visibilidade na mídia por
causa do pré-sal – afirma a técnica de suprimentos Adriana Souza da Cruz, 29
anos, embarcada há três na P-53, na Bacia de Campos.
Embora não
falem em discriminação ou preconceito, reconhecem que passaram por um sentimento
de “estranheza” quando começaram.
-Agora é
tranquilo. No início teve um pouco de estranheza pelo fato de ser mulher,
tradicionalmente nas plataformas onde a maioria de trabalhadores é homens. Mas,
a cada dia que passa, há mais mulheres chegando. A mulher sendo competente e
sabendo se colocar não tem problema – diz ainda Adriana.
Do total de
funcionários com nível superior na estatal hoje, 20,8% são mulheres. Entre as 18
funcionárias do pré-sal, uma ocupa função com nível superior e as outras 17 são
técnicas, embora muitas dessas tenham formação superior. Na posição de
liderança, a Petrobras tem hoje 960 gerentes mulheres – o número quase dobrou de
2003 para cá, quando eram 526. Entre os homens, o comando fica com 5.013
deles.
Conversar
pelo Skype com o marido:
A química
Cândida Carolina de Paula Santana, 30 anos, trabalha na FPSO Cidade Angra dos
Reis, na Bacia de Santos, fiscalizando a atuação da da Modec, operadora da
plataforma. Casada há um ano, desde outubro do ano passado está embarcada. Ela
diz que a função é conveniente. O marido trabalha como engenheiro para a
indústria automobilística no Uzbequistão, na Ásia. Nos 21 dias que tem de
descanso, ela voa para encontrá-lo. Quando está embarcada, sua rotina inclui
conversas pelo Skype, a leitura de um livro, quando há tempo, e os momentos em
que socializa com os colegas no refeitório.
-É bem
intenso quando se trabalha, mas depois quando tem a folga, há longo período de
descanso. Exige planejamento, tenho minhas contas todas no débito automático –
afirma.
A técnica de
operações Vívian Patrícia de Paula Reis trabalha na sala de controle, junto a
monitores e telas, acompanhando os dados de exploração, sem nenhuma outra mulher
para tratar diretamente. Está há quase quatro anos na P-53. Namora, tem 28 anos
e acha que por enquanto é difícil compatibilizar a ideia de filhos com o
trabalho que leva.
-Ter filho
para nós, pelo menos por um período, é inviável porque passamos muito tempo fora
de casa. É complicado ter um bebezinho e estar embarcando –
diz.
“Não temos
que ouvir só futebol”
A engenheira
Ana Maria Blanco, da Gerência de Desenvolvimento de Projetos do Pré-Sal, vê uma
mudança no panorama das mulheres dentro da empresa, desde que começou na
empresa, trabalhando embarcada, na década de 80.
- Quando
comecei havia muito poucas mulheres. Hoje, no departamento que trabalho, somos
42 pessoas, sendo que a metade, mulheres. O ambiente fica mais equilibrado, mais
agradável, não temos que ouvir só futebol – afirma.
Se a
ascensão de Graça Foster acelera o espaço das mulheres na empresa? As opiniões
são divididas, mas boa parte acha que a escalada profissional está mais ligada
ao empenho pessoal.
-Não sei,
acho que a mudança principal tem a ver com a competência – considera Ana
Maria.
Segundo a
Petrobras, na área de pesquisa, as mulheres também aumentam a participação. Em
2002, antes da descoberta do petróleo na camada pré-sal, 113 mulheres atuavam
nas atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionadas à Exploração e
Produção, no Cenpes. Hoje são 162 mulheres dedicadas às atividades de pesquisa
ligadas ao pré-sal.